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Entre o começo e o fim...

Porque a vida não acaba quando o cancro começa... Simplesmente recomeça...

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Porque a vida não acaba quando o cancro começa... Simplesmente recomeça...

21.06.18

A ecografia


Cristina Ferreira

 

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E se...? 

 

Entrei no gabinete sombrio. Não estava preocupada com a ecografia. Afinal já tinha feito outra algum tempo atrás: tinha apenas fibroadenomas. A minha mãe tivera fibroadenomas, talvez quistos também, mas nunca nada solicitador de qualquer tipo de intervenção ou tratamento... Não havia histórico de qualquer outro tipo de problema na minha família...

 

Tivera um mau pressentimento na semana anterior ao sair da consulta de planeamento familiar, mas fora só um mau pressentimento. Afinal eu já tinha feito as análises recomendadas, eu já tinha recebido os resultados e estava tudo bem. Aliás, como poderia não estar? Eu sempre fora saudável!

 

Deitada, olhava para as sombras bizarras e disformes que iam desfilando no ecrã. Observava o ar descontraído do médico e, perdida nos meus pensamentos, lembro-me de ter pensado que aquele deveria ser o emprego masculino perfeito não fosse a escuridão sufocadora e constante do gabinete e a idade provavelmente habitualmente avançada das pacientes!

 

Pensei no jantar: esquecera de colocar a carne a descongelar... Pensei no quanto já estava atrasada e que tinha de avisar o meu filho mais novo que teria de esperar... Pensava em tudo excepto na ecografia que estava naquele momento ali a fazer... Só voltei para o gabinete quando reparei que o médico passava insistentemente no mesmo local...

 

"Algum problema?" perguntei com toda a naturalidade e segurança. Estava sério, demasiado sério... O ar descontraído com que me recebeu no momento em que eu tinha entrado no gabinete tinha desaparecido e no seu rosto uma expressão que me aterrorizou tinha-se instalado... "Tem 44 anos... Pode ser apenas uma alteração hormonal... Mas vou ter de pedir uma mamografia complementar e uma biopsia..."

 

 

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