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Entre o começo e o fim...

Porque a vida não acaba quando o cancro começa... Simplesmente recomeça...

Entre o começo e o fim...

Porque a vida não acaba quando o cancro começa... Simplesmente recomeça...

05.09.18

Lotaria macabra...

Cristina Ferreira
    Primeiro vem o medo. Chega de repente, entra de rompante e vem de mão dada com o pânico. Depois sorrateiramente entra a culpa que vasculha minuciosamente na minha história de vida... "Que terei eu feito de errado para merecer isto...?" Informo-me, pesquiso... A necessidade doentia de justificação que sinto crescer dentro de mim sufoca-me...   Os dias passam e, finalmente, compreendo que... NADA! Simplesmente nada posso fazer para mudar isto, simplesmente nada fiz para merecer (...)
04.09.18

Porquê eu?

Cristina Ferreira
    Apesar do tempo que já passou desde o início desta história, apesar do tempo que já passou desde a suspeita criada pela primeira consulta e confirmada pela primeira ecografia, às vezes ainda não consigo acreditar... Ainda me pergunto porquê... Leio e releio todos os grupos de risco e não me enquadro em nenhum... Simplesmente não é possível isto estar a acontecer-me a mim! A mim?!? Logo a mim?!? Continuo a sentir, de forma total e conscientemente absurda e pueril, que (...)
30.08.18

O certo e o errado...

Cristina Ferreira
      "Vou tomar outro café!" disse a Márcia levantando-se e dirigindo-se para a porta. Ela trabalha comigo há pouco mais de um mês. É jovem, saiu agora da faculdade e este é o seu primeiro emprego. "Outro?" Respondi eu surpreendida. "Mas afinal quantos cafés é que tu tomas por dia?" "No mínimo uns 4 ou 5... Senão não me consigo aguentar! Comecei na faculdade... Era muito trabalho..."    Instintivamente surgiram na minha mente os meus habituais conselhos maternais: "Ain (...)
29.08.18

Um vulto na multidão...

Cristina Ferreira
    Gosto de multidões. Transformam-me num minúsculo e insignificante vulto. No meio da multidão, sou apenas mais um vulto  por entre os vultos que se cruzam de forma aleatória, invisível e insignificante.   No meio da multidão, sou apenas mais um vulto por entre um amontoado de minúsculos e insignificantes vultos que, incessantemente se movem de um lado para o outro, sem aparente destino, objetivo ou direção...   No meio da multidão, sou envolvida por uma estranha (...)
28.08.18

A viagem...

Cristina Ferreira
      Sento-me junto à janela. Encantada, observo a paisagem. Lá em baixo, tudo pequeno e distante, lindo e insignificante. Súbita e inesperadamente, sou invadida por uma estranha leveza. Tranquila e serena, fecho os olhos entregando-me ao embalar suave do balançar do avião...   Saboreio antecipadamente a pausa. Afasto-me. A minha vida fica a aguardar lá em baixo.  Pausa. Sou absorvida pelas nuvens brancas, brancas como puro algodão... Distraio-me... Observo-as imaginando (...)
13.08.18

Urgente: encontrar o culpado!

Cristina Ferreira
    Após um diagnóstico de cancro da mama, a palavra de ordem é encontrar o culpado! Que teria eu feito de errado no passado para merecer isto? Dei voltas e voltas... E acabei por me render... Há perguntas que simplesmente não têm resposta... Há coisas que simplesmente acontecem sem razão lógica para acontecer... Há coisas que simplesmente não dependem de mim... Há coisas que simplesmente eu não posso controlar...    
09.08.18

Os Oscares do IPO...

Cristina Ferreira
    Não gosto de ir ao IPO. No IPO a luz é baça e o ambiente é pesado. No IPO a sala de espera é sombria. O IPO é o local onde tudo é real. No IPO respira-se um ar doente. No IPO sufoca-se entre os rostos pálidos dos doentes e os rostos preocupados e impotentes dos acompanhantes desgastados. No IPO eu agradeço a sorte que eu tive por, até hoje, eu ter vivido toda a minha vida, de forma mimada, num mundo tão afastado desta paralela realidade. No IPO os funcionários são (...)
08.08.18

Fugir...

Cristina Ferreira
    O tempo passa... Está quase... Está a chegar...   Não quero! Não sinto dores! Não me sinto doente! Não quero! Imagino-me a fugir do IPO... Véspera da cirurgia e querem-me internar... Imagino-me a acordar despedaçada... Não quero ser despedaçada! Antes que isso me aconteça, fujo imaginando-me a voltar apenas tranquilamente para casa...   Paro... Saio dos meus pensamentos e acordo para o mundo real... Repetida e dolorosamente compreendo que se voltar para casa aí sim vou (...)
07.08.18

Sorte...

Cristina Ferreira
      Tudo é de facto uma questão de perspetiva...   Numa "aberrante" cirurgia há sorte... Ser possível fazer cirurgia é uma sorte...  Ter sido atempadamente diagnosticado foi uma sorte. Viver num país onde o acesso à saúde é simples é sorte...   Sim, existe uma lista de espera. Mas, pelo menos, existe uma lista...